Cada dia que passa mais me convenço que vivo num país em estado de esquizofrenia colectiva. Depois de quase meia dúzia de anos a serem explorados, roubados,
espoliados, humilhados e enxovalhados, os portugueses, quando tudo podia levar a
supor que tivessem ganho alguma
experiência com tão amargas vicissitudes, voltam - a fazer fé nas últimas
sondagens – a dizer que vão votar, nas próximas eleições legislativas, nos
mesmos partidos e homens que os fizeram amargar e passar por tão difíceis
condições que levaram ao empobrecimento, à miséria de muitos, à emigração
massiva e forçada de jovens que tanta falta faziam ao país, ao desemprego na casa dos 20 %, à penhora de habitações e despejo das famílias em números nunca vistos em
Portugal, ao aumento exponencial da dívida pública, ao escândalos económicos de BPN, BES, PT, etc, e que estamos a pagar, à
transferência de fundos dos bolsos dos pobres para a conta dos ricos, à
degradação do Serviço Nacional de Saúde procurando substituí-lo por uma saúde
privada a que só têm acesso os que
puderem pagar um seguro de saúde ou aqueles a quem as empresas privadas o
atribuírem, da escola pública em benefício da privada com a degradação
ostensiva e calculada da primeira, à delapidação dos melhores e mais lucrativos activos do estado e da sua entrega ao capital
privado , na maior parte estrangeiro , etc, e isto para só lembrar um pouco
daquilo que todos, ou quase todos, sabem.
Em Belém, devíamos ter um Presidente, mas temos apenas um
residente, que nem sequer paga renda, e que dispõe de um orçamento sumptuoso e
escandaloso especialmente quando comparado com outros no estrangeiro, em países com diferentes capacidades económicas, e que disse ao que vinha logo no discurso de
vitória na noite das últimas eleições presidenciais. No (des)governo , está um pequeno exército de
copistas e replicadores das políticas da srª Merkel, que, como é evidente,
só interessam à srª Merkel. Na oposição
trocaram o chamado líder da oposição, que diziam enfermar de frouxidão, por
outro tão frouxo como o seu antecessor mas a que junta a desgraça de ser desastrado e ausente, isto,
claro, para além de não se lhe conhecer qualquer tipo de ideia para o futuro do
país que vá além de dizer mal do principal adversário. Ora, como bem sabemos,
só isso, não serve para reerguer Portugal da miséria moral e material em que caiu.
Para finalizar, sabemos agora que o ‘impoluto’ primeiro-ministro,
afinal, utilizou o ‘esquecimento’ ou ‘ignorância’
legal como argumentos para justificação de evasão de pagamento de impostos e contribuições. E, para além de ele próprio achar que tem condições para continuar a
(des)governar, outros, como o
residente de Belém, não se
pronunciam, não vá alguém lembrar-se, outra vez, dos processos, pouco claros, que permitiram
que ele usufruísse de mais-valias ao
alcance apenas de alguns amigos de Oliveira e Costa, no BPN, ou ainda dos
esquemas, também nunca esclarecidos, que facilitaram a construção da sua
nova moradia algarvia, na mesma rua onde
muitos dos seus amigos do BPN também possuem
uma.
Face a tudo isto, os portugueses acham que os partidos que
os (des)governam e levam à miséria há muitos anos, devem continuar com terreno
livre para concluir, ou continuar a sua obra.
Isto tem um, ou vários nomes : esquizofrenia,
fuga para a frente, atraso, embrutecimento, amorfismo, baixa auto-estima,
estupidez. E disto, eu não partilho.
Se tenho alternativa ? Não sei se tenho ! Mas uma coisa faço:
se estou à beira do abismo nunca dou um passo em frente, recuo, fujo dali, não
deixo que me empurrem.
Jacinto Lourenço