Já escrevi anteriormente sobre
este tema, dos jovens, do seu presente e do seu futuro, mas também dos seus
pais e encarregados de educação e da forma como interagem uns e outros sabendo das
responsabilidades inerentes no plano dessa interacção.
Bem sabemos que o paradigma dos
adoslescentes e jovens de hoje é bem distinto do de há três ou quatro décadas
atrás, contudo há coisas que nunca mudam.
Mas na verdade, para as actuais
gerações de pais e educadores, ou mesmo desde há uma ou duas gerações
para cá, essas coisas de que falo, e que nunca mudam, foram simplesmente
banalizadas ou completamente relativizadas e o resultado disso espelha-se nos
comportamentos que observamos nos adolescentes e jovens e nas
consequências que eles traduzem.
Não quero trazer à colação os
meus valores cristãos para que não se diga que este pequeno texto reproduz
ideias feitas ou influências de vínculo religioso . Quero apenas olhar para algumas pequenas/grandes
diferenças que encontro entre a matriz educacional e de valores ( as tais
pequenas coisas que nunca mudam ) que foi
transmitida à minha geração e a mais uma ou duas gerações posteriores à
minha e que, por muito que me esforce, não consigo encontrar na generalidade
das actuais gerações de jovens nem de pais e educadores.
Longe de mim reivindicar a
ideia do retorno ao trabalho infantil ou algo parecido, porém a minha geração
aprendeu desde cedo o valor do trabalho, a sua dificuldade, a sua necessidade e recompensa enquanto factores de evolução pessoal e humana, fosse na escola ou fora dela na ajuda aos familiares nas mais diversas
tarefas domésticas ou mesmo em pequenos trabalhos agrícolas, oficinais ou
outros.
Nas férias grandes era seguro e sabido que não ficaríamos a curtir o
corpo na cama até às duas ou três da tarde mas que teríamos de acompanhar os
nossos pais ou educadores até ao seu local de trabalho e ali permanecer grande
parte do dia, ou então ser-nos-ia encontrada uma ocupação, a troco de uma
pequena remuneração, num qualquer comércio, escritório ou oficina afim de não
ficarmos entregues a nós próprios em casa ou na rua. Se gostávamos ? Claro que não ! Mas nada disso nos retirava o tempo para a
brincadeira e convívio com os amigos ao final da tarde. Os serões, sentados nas
soleiras das portas a ouvir histórias dos adultos ou a observar as estrelas no
firmamento e a aprender eram uma animação e uma experiência irrepetível nas
nossas vidas. Sorvíamos cada
momento, cada experiência, cada história. Hoje o que vemos é os
adolescentes completamente desocupados ou envolvidos com os seus gadgets quase
todo o tempo que estão acordados. É a isso que se resume o seu pequeno mundo
somado aos encontros de grandes grupos que pululam nas ruas até de madrugada
quer provocando desmandos ou ruídos inadmissíveis, quer grafitando paredes de
prédios com caracteres meio góticos que
só a sua tribo entende. Hoje o que observamos nos pais e encarregados de educação é a preocupação em rodearem, a uso e a desuso, os seus filhos e educandos de todo o conforto possível e impossível, a propósito ou despropósito, merecido ou imerecido sem que tal resulte de um critério educacional compreensível ou de uma escala de valores bem graduada.
Interrogo-me sempre sobre a qualidade do sono dos pais
que permitem que os seus adolescentes e jovens, na maior parte dos casos ainda
menores de idade, deambulem fora de casa, dia ou noite dentro, sem qualquer tipo de controlo
tutelar. Admito que, para alguns pais e
educadores, isso possa ser uma alegria,
um tempo de recreio em que não têm que se preocupar, achando que os seus filhos
são um exemplo e os melhores filhos do mundo. Puro engano. Os seus filhos são
iguais aos de todos os outros pais e com comportamentos iguais aos de todos os
outros rapazes e raparigas quando deixados em roda livre e “entregues aos
cuidados” e "conselhos" do seu grupo de amigos. Mas pelos vistos esses pais e educadores acham que não e descansam
nessa perigosa hipótese. O resultado é o que se vê e que algumas vezes aparece
nos meios de comunicação social.
Sim, não peço desculpa por
achar que aos filhos e educandos devem ser ensinados, além de outros, também os
valores do trabalho enquanto ferramenta
útil de socialização e promoção social e humana e isso nada tem a ver
com exploração de trabalho infantil. Mas muitos pais e educadores, quais
moderníssimos pedagogos acham que os seus filhos devem ser
“protegidos” dos “malefícios” dessa aprendizagem, preferindo que eles fiquem
entregues a si próprios enquanto não estão na escola, ou quando estão de férias fora desta. E os resultados dessa
opção estão à vista na civilidade comportamental das gerações juvenis actuais, na interacção com as gerações mais velhas, na cada vez maior e incontrolada indisciplina nas salas
de aula, na ausência do respeito devido aos professores que os ensinam e na falta
de aplicação nos estudos com o insucesso escolar conhecido no país.
Existe um défice de compreensão
elevado, da parte de muitos pais e educadores, mas também do estado, quanto a estas matérias e sobre a sua importância, e alguma coisa
precisa ser feita, a começar em casa, no seio familiar, sim, porque é aí que se
educam os filhos, mas também no âmbito das políticas de enquadramento sócio-económico dos
jovens e na responsabilização cívica dos pais e educadores que continuam a
achar que cabe à escola e não a eles educar os seus rebentos.
Jacinto Lourenço