terça-feira, 22 de julho de 2014

Os que Não são Lembrados


Não tenho tido grande disponibilidade para vir até aqui escrever alguma coisa. Depois, bem ,depois não tenho disponibilidade nenhuma para vir aqui apenas  dizer alguma coisa do género vazio só para marcar presença, ou para 'encher'.

Escrever, para mim, não é um acto de violentação intelectual. Ou escrevo porque sinto que tenho algo de relativa relevância para escrever, ou não escrevo. Mas violento-me também se não escrevo. Tenho pavor da página em branco. Não sou do género de me sentar à espera de uma ideia para escrever. Quando me sento ao computador já sei o que vou escrever e porque o vou escrever, mesmo que não saiba se vou escrever muito ou pouco sobre o que quero escrever. Hoje, por exemplo, acho que vou escrever pouco porque a razão porque quero escrever se torna penosa em extremo para que me apeteça escrever muito sobre ela.

Toda a vida desejei estudar História tendo realizado o desiderato de fazer o meu curso de História. Percebo quase tudo sobre a história da humanidade, velha de séculos e milénios, vinda  desde tempos perdidos até aos nossos dias. Muitos dos livros que li e que estudei, e já foram provavelmente algumas centenas ao longo dos anos que levo de vida, estavam repassados de cadáveres de reis, príncipes, rainhas, princesas, imperadores, guerreiros, soldados, peões, cavaleiros, cruzados, homens bons e homens maus, gente importante ou gente simples que se deu por causas justas ou injustas. Muitos 'historiadores' infantilizaram a História passando a ideia de que a  gente que morria sabia  que esse poderia ser o seu destino por estar no meio de uma guerra qualquer em defesa de qualquer coisa, por mais banal que fosse, nem que fosse o quintal de um senhor da guerra. A verdade por detrás disso é que muita  gente  morreu sem sequer perceber porque razão tinha que morrer.

Não sei quem irá condensar, de forma escrita, a história das guerras de que todos os dias ouvimos agora falar, mas sei que, muito provavelmente, aqueles que comprarem, daqui por alguns anos, os livros de História que se escreverão sobre as guerras deste tempo actual, irão achar que a humanidade, afinal, jamais aprenderá, ou mostrará disponibilidade para aprender com as suas guerras e com os seus mortos. No fim, restarão, para memória futura, umas quantas estátuas erguidas a uns quantos 'heróis' que para o serem tiveram que matar uns quantos 'inimigos'. Claro que nunca serão lembrados os milhares de homens, mulheres e crianças inocentes que foram covardemente assassinados para que fosse produzido um 'herói'. É talvez porque me considero um anti-herói que desejo lembrar aqui, hoje, aqueles que morrem às mãos dos que acham que matar ou morrer é apenas  escolher um lado da moeda. Nenhum lado de uma moeda atirada ao ar e à sorte diz seja o que for sobre uma vida.

A morte de um ser humano não tem um preço porque a vida tem um valor imaterial incalculável. 


Jacinto Lourenço