quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O Valor da Dignidade e da Fé




...O trauma de ficar diante de um pelotão de fuzilamento, segundos antes da execução ser suspensa, não bastou para que Fiodor Dostoievsky deixasse de ser o aclamado escritor Fiodor Dostoievsky.
A força do império britânico não foi suficiente para que Mahatma Gandhi deixasse de se tornar o Mahatma Gandhi que trouxe tanto a independência da Índia quanto a filosofia do pacifismo como resistência política.
O ódio e a perseguição de John Edgar Hoover não foram suficientes para que Martin Luther King Junior deixasse de conquistar o seu lugar no panteão dos grandes vultos da humanidade como Martin Luther King Junior.
A difamação e a censura da União Soviética – e mais o exílio na Sibéria – não evitaram que Aleksandr Solzhenitsyn ganhasse o Prêmio Nobel de literatura como o Aleksandr Solzhenitsyn em Arquipélago Gulag.
O bloqueio da rede Globo de televisão não ofuscou o brilho poético do Chico Buarque de Holanda e ele continuou a compor para se imortalizar como um dos maiores letristas da música popular brasileira como o Chico Buarque de Holanda.
Os vinte sete anos de cadeia, além de ser chamado de terrorista por Ronald Reagan e Margareth Thatcher, não anularam Nelson Mandela; sequer impediram que ele se tornasse o presidente da África do Sul, e uma das maiores figuras da humanidade como Nelson Mandela.
[...]
Delatores congelam nas esferas mais baixas do inferno.
Covardes saem na urina da história.
Venais escorrem no esgoto da vida.
Lambe-botas se arrastam anos a fio como capachos.
Quando pensar que tiranos, oportunistas, poderosos e famosos levam vantagem, lembre-se do texto sagrado [Hebreus 11:35-39]:
[Devido a fé] mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos;
uns foram torturados, não aceitando o seu livramento,
para alcançarem uma melhor ressurreição;
E outros experimentaram escárnios e açoites,
e até cadeias e prisões.
Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada;
andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras,
desamparados, aflitos e maltratados
(Dos quais o mundo não era digno), 
errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra.
E todos estes, tendo tido testemunho pela fé,
não alcançaram a promessa.
Soli Deo Gloria

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Um 'Monstro Sagrado' no concerto dos Futebolistas



Houve um tempo em que um clube, em Portugal, foi maior, na sua projecção internacional que o próprio país. Esse clube chamava-se  Sport  Lisboa e Benfica.

Houve uma década em que esse clube chamado Benfica projectou, mundo fora,  o nome de um país desconhecido chamado Portugal.

Nesse clube chamado Benfica e nessa recuada década de 60 emergiu uma equipa de jogadores que, sabemos hoje, se tornou irrepetível na sua qualidade, grandeza e valor. Nessa equipa despontaram e cresceram jogadores do maior valor desportivo a nível internacional. Essa equipa tinha um 'patrão', um senhor que comandava uma constelação de futebolista a partir do meio campo, esse senhor dava pelo nome de Mário Coluna.

Ontem à noite, depois de saber do seu falecimento, comentei com o meu filho Pedro, benfiquista como eu, que me sentia um privilegiado por ter vivido  esse tempo, o tempo em que uma equipa de futebol foi muito maior, e mais importante no mundo que o próprio país onde emergiu, e dentro dessa equipa de futebol, Mário Coluna foi, como lhe chamaram desde sempre, um 'monstro sagrado' no concerto dos futebolistas.



Há muita coisa de que não me orgulho em Portugal. Foi sempre assim. Portugal tem muita coisa, sempre teve, de que não nos podemos orgulhar, bem pelo contrário.  Mas o Sport Lisboa e Benfica, e em especial Coluna é algo que, como português, me enche de orgulho e uma das razões pela qual me sinto recompensado na vida  por ter vivido esse tempo, o tempo em que Mário Coluna jogou e em que o Benfica foi maior que Portugal.

Moçambique, Portugal, os moçambicanos e os portugueses devem sentir-se orgulhosos por Mário Coluna ter trazido brilho e glória aos dois povos.

Obrigado Mário Coluna. Descansa em paz.


Jacinto Lourenço

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Já Não Tenho Paciência...


Tenho andado a pensar que começo a acumular um défice de paciência para muitas coisas, sendo que  outras já me passam completamente ao lado.
Não tenho paciência, por exemplo, para discussões inúteis no Facebook, especialmente as   que têm em vista, por parte de quem muitas vezes as alimenta, a  marcação de território, ostentação de opiniões absolutistas,  ou exibicão de narcisismos  pseudo-culturais com pouca saída em foruns de  mais avisada assistência. Recuso liminarmente os púlpitos virtuais que se erguem nesta rede social  onde pregadores ocasionais proclamam, em 'deriva profética',  um evangelho de consumo imediato, pessoal ou utilitário ou, por outro lado, um cristianismo simplista de trazer por casa. 

Tenho, como sempre tive, e só isso me levou a "aderir", uma visão puramente hedonista do FB, ou melhor: o FB é um dos meus lugares de "veraneio"  na rede e nada mais, onde convivo com os amigos descontraidamente. Que me perdoem os puristas da coisa ou os que possam ter outra visão mais "séria" do assunto que eu sinceramente nunca consegui, nem quero, atingir.

Também já não tenho paciência para um certo  'imperialismo militante', de muitos sectores ditos cristãos, fundamentalistas  religiosos, donos de toda a verdade e revelação. Jesus disse que Ele era a Verdade e é essa Verdade que eu defendo 'com unhas e dentes' por ser a Única Verdade. Esse é o evangelho que leio e que guia a minha vida. De resto, o respeito que tenho por qualquer cristão que, como eu, leia apenas e siga  esse evangelho,  é infinitamente  maior do que o que tenho por  qualquer exegeta, doutor da lei, apóstolo ( destes modernos que circulam por aí agora ) ou pregador, mesmo que possa ser muito relevante o seu papel numa qualquer igreja.
Já não tinha nenhum respeito nem paciência  para cristãos, pastores, evangelistas, ministros, que acham que por o serem,  a sua fé não pode ser confrontada,  ou que  estão acima de qualquer questionamento. Jesus nunca fugiu aos debates, aos diálogos com aqueles que o questionavam sobre a Salvação e até acerca da sua própria condição humana-divina, mas fartou-se algumas vezes dos fariseus e dos seus discursos rasteiros.  Paulo não desprezava os confrontos que esclarecessem as posições e o alcance da fé cristã mas não os trocou por por um cristianismo de segunda.  Mais modernamente Lutero ou todos os outros reformadores tiveram que se questionar igualmente sobre as "verdades" absolutas da fé que os tinha formatado tendo a sua vida sido um constante corrigir de percurso e erros, muito deles, infelizmente graves e irremediáveis. Há muito de farisaísmo numa fé que se refugia na fuga ao debate, ao diálogo, que acha que não se deve deixar questionar por quem dela duvida. Gente com uma fé assim anda sempre carregada de pedras nos bolsos, vive num círculo fechado, é habitada por um  'Trento' protestante.

Já se me esgotou a paciência, há muito, para igrejas que se escondem em lugar de se exporem mostrando que também são feitas da mesma 'massa humana' que toda a gente que não é igreja. Igrejas que necessitam de redenção!  Já não tenho pachorra para tolerar  'superioridades' espirituais que mais parecem apontar para  regimes de castas sublinhadas por particularismos pontuais que marcaram a vida da igreja de todos os tempos. Sou cristão-pentecostal, sim, mas  não tenho isso como fundamental ou como matriz diferenciadora da minha fé ou do meu comportamento cristão. Não julgo que haja qualquer virtude cristã especial em ser pentecostal, em ser batista, presbiteriano, etc. Somos todos, se efectivamente somos, um em Cristo, nada mais. Não faço  leituras ou exegeses abusivas da Bíblia Sagrada que tenham em vista aprisionar onde o evangelho libertou.

Noutro domínio, já não tenho paciência para governos de suposta esquerda, de centro direita e menos ainda de direita. Cansam-me as causas fracturantes da esquerda e os populismos da direita; a vacuidade das falsas   ideologias que nos faz andar em círculos subindo na escala da babel dos ódios de estimação. Prefiro causas sociais,  pessoas reais, trabalhadores, empresários e sindicalistas sérios, que não vêm o capital como o fim último dos seus interesses ou dos seus combates, mas as pessoas, o povo, a nação, como fim último do seu trabalho .  Entre os valores do trabalho e de quem trabalha em qualquer sector da vida, e os do capitalismo selvagem que nos devora, nem preciso escolher. Sei de onde vim, quem sou e para onde vou e não vou com quem me devora.

Chateia-me Olivença e os seus 'amigos portugueses' em romaria anual a lembrar aos espanhóis que lá vivem que aquilo já foi português. A guerra de fronteiras encerrou-se há muito na península ibérica e os "fantasmas", como é sabido, não gostam de Espanha; preferem os ares mais taciturnos deste lado da fronteira onde os touros nunca andam em pontas e a investida é sempre mais dócil porque nada se arrisca. Para além do mais, Olivença nem quer ser portuguesa!

Perdi a paciência com um país de penacho onde as pessoas se tratam por doutores e engenheiros como se título académico fosse nome próprio ou apelido de pai ou mãe. Agasta-me de morte  ver uma justiça onde muitos  juízes prendem  polícias e soltam  ladrões. É bem provável que tenham cabulado no exame de acesso à profissão...

Não dá mais para suportar o eterno desprezo a que é votada a cultura em Portugal. Menos paciência tenho  ainda para tolerar uma cultura-de-faz-de-conta-que-é-mas-não-é  promovida por quem não sabe nem quer respeitar um país, um povo e uma cultura  que se souberam  afirmar contra ventos e tempestades e onde falta, há muito,  uma nova geração de Avis que recoloque Portugal no lugar que é seu no concerto das nações. Enquanto isso não acontecer, estou sem paciência para este país e para este povo que teima em escolher para o governar  as máfias que se acoitam nos partidos. 

Jacinto Lourenço

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A Rádio é Uma Coisa Diferente, e Hoje é o Dia Mundial da Rádio




Indiscutivelmente, a Rádio marcou a minha geração. Na Rádio ouviam-se os relatos da bola ao domingo à tarde ( sim, os jogos realizavam-se todos, e sempre, ao domingo à tarde... ). Para os mais velhos, e mais politizados, era também a Rádio que trazia as notícias que não passavam no crivo da censura em Portugal. Nas ondas curtas sintonizavam-se a Rádio-Moscovo e a Rádio-Portugal  Livre. Foi assim que se ficou a conhecer no país  a realidade da crise estudantil  da década de 60 e também  o que realmente estava a acontecer nas colónias quando aí estalou a guerra.         Era tudo escutado muito em surdina, tudo muito baixinho, que as paredes, nesse tempo, tinham mesmo ouvidos e muitas pessoas foram delatadas à GNR local, por vizinhos ou 'amigos' apenas por ouvirem esses programas e, claro, sujeitos posteriormente ao respectivo interrogatório no Posto acompanhado  pelos  'afagos' dos guardas... Portugal, queiramos ou não, foi sempre, mais do que se pensa  ou diz, um país de 'bufos' .

Na Rádio passavam alguns programas que ninguém perdia e que marcaram gerações: o Serão para Trabalhadores, da FNAT ( actual Inatel ), os Parodiantes de Lisboa, o Quando o Telefone Toca, os Discos Pedidos ou a primeira rádio-novela em Portugal: "Simplesmente Maria", que deu brado. Foi pela Rádio que soubémos, ao momento, que Salazar tinha caído da cadeira. Foi também a Rádio que nos trouxe até casa essa notícia alegre e libertadora de que o 25 de Abril, estava na rua.

Em minha casa, a casa dos meus avós, nunca houve televisão, até porque a energia eléctrica só chegou à povoação no final da década de 60 e a televisão, alimentada a gerador, era um 'luxo'  algo recente a que poucos particulares podiam ainda aceder,  mas houve, tanto quanto me lembro, quase sempre,  uma telefonia que era o centro de todas as nossas atenções. Era ela   a ligação ao pequenino mundo português que se fechava sobre si próprio nas fronteiras com Espanha.  A Rádio era assim como que uma evasão espiritual e mental para quem habitava um país que uma ditadura teimava em manter como ilha de criminoso subdesenvolvimento e atraso cultural e civilizacional. Era, dentro do Estado Novo, o único meio de comunicação que possibilitava uma pequena amostra de democracia. As Ondas-Curtas traziam aos portugueses um mundo novo e diferente que nenhum ditador ou polícia política conseguiam esconder ou prender.  E talvez por tudo isto me tornei um indefectível ouvinte de rádio. Ainda hoje, em qualquer divisão da casa onde eu esteja, salvo alguma ocupação que o não permita,  há sempre um rádio ligado para eu ouvir, como é o caso agora mesmo, enquanto escrevo.  Gosto de  estações de Rádio com gente dentro. Já as Rádios temáticas, que só passam música durante horas a fio, não me dizem muito, salvo uma ou outra honrosa excepção.  Bem sei que poupam em recursos humanos... Mas se é  para ouvir apenas música, então  tenho outros suportes mais modernos. Rádio é uma coisa diferente.

 Gosto de uma Rádio atenta a tudo o que se passa à nossa volta, uma Rádio que me traga o mundo sem me ocupar a visão com imagens de arquivo que nos adormecem ao cabo de alguns minutos de 'bombardeio' noticioso. Gosto de uma rádio que não faça das notícias um repetitivo 'enchimento de chouriços'. Uma rádio que diz o que tem a dizer sem grandes delongas ou 'floreados'  bacocos.  Gosto de rádio com cultura, com entretenimento inteligente, com uma boa selecção musical, com diversidade de rubricas, actuais e interessantes, e pluralidade de programação que chegue aos vários  estratos da população. Depois é só escolher  o que mais me me agrada.  Outras vezes ouço rádio sem estar a ouvir, apenas por companhia. Não gosto da solidão pela solidão. Nunca gostei de estudar em silêncio. Isolo-me mais facilmente,  para ler ou estudar,  num ambiente ruidoso do que numa sala onde esteja sozinho.

Quando o meu despertador toca, pela manhã, a primeira coisa que faço é ligar um pequeno rádio que tenho na cabeceira e ouvir o que se passou no mundo enquanto eu dormia; a situação do trânsito, o tempo que vai fazer, etc.  É raro, mas às vezes tenho insónias; então ligo o rádio e ponho uns auriculares. Ao fim de algum tempo 'desligo-me' sem dar por isso e os auriculares  saltam-me das orelhas e vão à sua vida. 

A Rádio acabou por marcar um pouco do que eu sou como pessoa, pelas melhores razões. Fui também radialista  durante cerca de 17 anos e, tudo somado, dá como resultado que, sem Rádio por perto, a minha vida seria sem dúvida um pouco mais insonsa. 

Felizmente que em Portugal se faz muito boa e variada rádio. Obrigado a todos os que a produzem, realizam e trazem até nós, os ouvintes.

Jacinto Lourenço  

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Expulsão dos Judeus em Espanha - 1492




A decisão [recente] do governo [espanhol] de modificar o código civil  e conceder a nacionalidade espanhola aos descendentes dos judeus, que foram expulsos de Espanha em 1492, despertou um extraordinário interesse entre os cidadãos do estado de Israel. O facto não é estranho se pensarmos que as famílias de  judeus sefarditas conservaram a sua língua  e também as chaves das suas casas de onde foram expulsos.

Desde o tempo dos godos que os judeus foram perseguidos com maior ou menor intensidade conforme o momento e o lugar.  Foram acusados de serem portadores da peste, de crucificarem crianças na sexta-feira santa; proibiu-se-lhes a prática de determinadas profissões, foram obrigados a viver em guetos e, levando ao extremo a sua perseguição, tinham ainda que  exibir  uma marca distintiva no vestuário.   Toda esta voragem de humilhações e aberrações culminou com o decreto da sua expulsão de Espanha assinado em 31 de Março de 1492 pelos reis católicos com base num texto  do inquisidor geral  Tomás de Torquemada. Segundo este decreto, os judeus que não se convertessem deviam abandonar Sefarad (nome pelo qual era conhecida a Península Ibérica entre os judeus). Cerca de 100.000 judeus abandonaram então as suas casas e o seu país ( Espanha). Tiveram que vender os seus pertences à pressa e ao desbarato e pagar o frete dos barcos que os transportaram. Muitos exilaram-se em Navarra ( reino tido como independente ), em países dos balcãs, no norte de áfrica ou no império otomano [muitos outros refugiaram-se igualmente em Portugal onde, apesar de tudo, a monarquia era um pouco mais branda com os judeus].
Há contudo dois detalhes que são demonstrativos do seu apego por Espanha, que era também a sua terra.  Mantiveram viva entre si  a língua  sefardí, ou ladino [...], nos territórios para onde se dirigiram e onde se estabeleceram de novo. E, mais surpreedente ainda, conservaram as chaves das suas casas que tiveram que abandonar em Espanha. Mesmo hoje, muitas famílias guardam ainda as chaves dessas casas sendo as mulheres encarregadas de as passar de geração em geração.

Javier Sanz in Histórias de la História
( traduzido do Castelhano por Jacinto Lourenço )

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uma Migalha de Sorte...



A   história de Portugal tem, apesar de tudo,  alguns  poucos registos que assinalam momentos em que o povo decidiu conduzir o seu próprio destino, de resto, o que é mais comum  é  deixarmo-nos embalar pelas cantigas  de uns quantos que traem, sistematicamente,  os verdadeiros interesses da nação portuguesa. Andamos há já quase quarenta  anos neste círculo vicioso isto, claro, se não contarmos com os dezasseis anos da Primeira República mais os quarenta e oito da ditadura e do Estado Novo  e, literalmente, passámos todo este tempo a "entregar o ouro ao bandido"  esperando sempre que alguém venha, providencialmente, qual D. Sebastião, resolver os nossos problemas.

 A verdade é que, no pós 25 de Abril de 1974  nunca deixámos de entregar o nosso presente e o futuro nas mãos dos  cleptocratas do costume e depois ainda  lá estamos para lhes bater palmas  na sua marcha triunfal esperando sempre  que algum deles  nos atire uma migalha de sorte. O problema é que o futuro dos povos não se contrói  à  sorte.                                                                  
Chegámos tarde à democracia e não conseguimos ainda decifrar muito bem os reais interesses dos que se acoitam nas quintas partidárias. Esses sim aprendem depressa os códigos da sobrevivência e fazem juz ao apodo  de chicos espertos  e à proverbial  fama de desenrascanço que normalmente o português se atribui a si próprio.  Deixamo-nos enganar ou damos espaço para que nos enganem. Somos enrolados em marés de promessas eleitorais e discursos acalorados que nos falam ao imediatismo do momento para depois, na glorificação dos vencedores, nos reservarem apenas o papel de aguentar  o férculo.                                      

Somos portugueses dum tempo geracional  incapaz de enfrentar os seus próprios medos e desafios, preferimos pagar, e bem, a quem o faça por nós. Falamos muito à mesa do café sobre os males que nos assolam mas não mostramos rasgo nem golpe de asa~para ir além disso. E há sempre alguém, alguma quinta partidária, algum carreirista da política, dispostos  a aproveitar essa fragilidade inscrita nos nossos genes, essa incapacidade de não conseguirmos construir a nossa própria história ou de sabermos  estar à altura da ancestral identidade de Portugal. 

Jacinto Lourenço

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O preconceito Mata. A Verdade Liberta


O preconceito mata a verdade na medida em que assenta em tradições, obediências inflexíveis e cegas, convenções que impedem o nosso olhar claro e juízo clarividente. Pela fé sabemos que podemos descansar em Cristo, pois n'Ele, só a verdade subsistirá. Cairão todas as mentiras que a nossa “arqueologia mental” sustentar, porque o Ele as destrói pelo seu poder. Um homem ou mulher que nasce de novo, que alicerça a sua vida em Deus, não pode ser preconceituoso em relação a nada que se lhe apresente pela frente. Jesus nunca utilizou o preconceito para julgar pessoas ou situações. Ele via pelo crivo da verdade e da misericórdia de Deus que assentavam em valores divinos.

”…Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro a atirar a pedra sobre ela (…) quando ouviram isso, saíram um a um , a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficaram só Jesus e a mulher, que estava no meio. (…) e Jesus, não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? (…) ninguém Senhor.(…). Nem eu também te condeno; vai e não peques mais.”       Como vimos, nesta passagem bíblica de João 8:7-10, os judeus levaram a Cristo uma mulher adúltera. De acordo com a sua linha de preconceito, baseada em velhas tradições e convenções judaicas, tinham que a apedrejar até à morte. Jesus olhou e viu de outra forma. Uma forma que não está contaminada por qualquer raiz de conceito prévio sem fundamento de verdade.

Nos bolsos e mãos, levava a populaça as pedras que iria atirar sobre a mulher que se deitara com um dos da sua nação, era isso que lhes ditava a tradição. Aquilo que Jesus lhes disse é que as pedras do preconceito não libertam; matam, assassinam a verdade, e a verdade ali , naquele momento, é que nenhum dos que se preparavam para matar poderia atirar uma única pedra, porque as suas próprias vidas eram construídas sobre a mentira do preconceito. “Não peques mais, foi o que Cristo disse à mulher. A Verdade liberta-nos. A mentira oprime-nos e condena-nos. Jesus não relativizou a verdade, não pactuou com o pecado. Perdoou a mulher pecadora, deixando-lhe, ao mesmo tempo, a mensagem da necessidade da pureza de vida. Decerto que ela não esqueceu aquilo que o pecado da relativização moral em conjunto com o da arrogância religiosa institucionalizada podia trazer de nefasto para si própria e para os seus semelhantes.
***
Jacinto Lourenço