sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A minha avó Gertrudes - Uma Dádiva de Amor


Hoje é o dia dos avós, bom, pelo menos da minha avó Gertrudes que, se ainda vivesse, teria completado 106 anos. Bem sei que é uma idade a que muito pouca gente pode aspirar a chegar, mas a minha avó Gertrudes partiu cedo demais, aos 63 anos, quando ainda me fazia muita falta.

Poucos têm o privilégio de ter tido uma avó que foi muito além dessa condição. A minha foi avó e mãe. Ou talvez seja melhor dizer ao contrário: ela foi mãe e avó. Condição ambivalente que só um caldo de amor e sofrimento pode determinar. E foi nessa condição que me amou muito além do amor que se espera de quem é apenas mãe, rodeando-me de um amor incondicional e de um cuidado extremo. Passámos por muita coisa juntos. Muito lhe exigiram por mim. Não se negou a nada. Fui um menino mimado, feliz, sob o seu olhar protector, cuidado e educado com o melhor que a minha avó Gertrudes, no seu corpo franzino,  tinha dentro do seu enorme coração, e era muito, e era tudo. Não me lembro de uma única vez me ter sequer  ameaçado  com um açoite, que tantas vezes mereci, seguramente. Mas lembro-me de sempre me ter protegido e afagado. Sinto que a desiludi algumas vezes nos escassos 17 anos que com ela vivi e convivi, mas não me lembro de alguma vez ela me ter desiludido. Uma grande parte daquilo que sou e como sou, o melhor de mim, devo à minha avó Gertrudes.

Esposa, mãe de família, dona de casa, mãe-avó extremosa, cuidadora e cuidadosa, sofredora também. Por muito que eu saiba que dificilmente poderia estar ainda comigo, agora, jamais deixarei de sentir, pesadamente, a sua ausência. 

Num momento em que a sociedade, por força de circunstâncias infelizmente conhecidas, redescobre o papel dos avós, eu não posso deixar de assinalar aqui, o quanto a minha avó foi importante na minha vida.


Jacinto Lourenço