quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Memórias Intemporais...


Vejo o tempo passar e deixar um rasto no ar. Umas vezes parece um  castelo de nuvens que rapidamente se desmorona  outras  uma  linha que se desfaz deixando  no ar  serpentes imaginárias. O nosso tempo passa depressa, é fugaz e veloz. Nem sempre o desejamos lento, é verdade, mas a maior parte das vezes ele corre como se fora um cavalo tonto na pradaria.  O tempo traz e leva, é essa a sua função. Nunca devolve. Não foi projectado para isso, nem é sua vocação.
Hoje partiu Nadir Afonso, como antes já tinham partido tantos outros, homens e mulheres que foram e são, referências culturais ou civilizacionais do nosso tempo, e do tempo futuro. No fim das coisas, da nossa vida, o mais importante que fazemos com o tempo em que a vivemos, é o que deixamos feito. A memória, sim, a memória é o que fica gravado na vida de todos os homens e mulheres que vierem atrás de nós. Ouvirão de alguns de nós, estudarão alguns de nós, recordarão alguns de nós, mas só daqueles que fizeram do tempo barro em suas mãos e deixaram, indelevelmente marcada, para todos os tempos, uma memória que continuará a ser uma referência, uma construção no tempo, um monumento intemporal.

Ontem Mandela, hoje Nadir. Vêmo-los partir e ficamos cada vez mais pobres, tristes, ou resignados.  Como se para isso não bastasse já o que nos tem feito o (des)governo de meliantes que uma minoria de portugueses, em Portugal, e  europeus, na europa,  elegeu (ou não)  e instalou no poder aqui, e por essa europa fora. Em nome de um poder estranho, uns poucos usam o tempo de todos nós, da nossa vida, como se fora seu, e nós deixamos.  E tudo caldeado numa resignação que todos os dias destrói a alma colectiva desta nação triste, na ponta duma europa triste, aberta a um  mundo onde, apesar de tudo, há heróis a tombar depois de deixarem  escrita uma memória do tempo da sua vida no tempo das nossas vidas.


Jacinto Lourenço